28 de junho de 2017
Estudo da microbiota ruminal

Estudo da microbiota ruminal: quando apenas abrir os olhos não é o suficiente

Por Natanael Leitão – São Paulo/SP

Não é novidade que o corpo dos animais abriga trilhões de células de micro-organismos, dentre bactérias, fungos e protozoários. Identificadas primeiramente no sistema digestivo, essas populações por muitos anos foram denominadas “flora intestinal”, e hoje, devido a classificação dos micro-organismos fora do grupo dos vegetais, são chamadas de microbiota, e sabe-se que também estão presentes na pele, partes do sistema respiratório e genito-urinário.

(Ilustração: Kristen Phillips)

Os bovinos são dotados de uma microbiota extensa e variada, principalmente no rúmen, órgão responsável pela fermentação da matéria vegetal que abriga mais de 200 espécies de bactérias, 25 gêneros de protozoários e seis gêneros de fungos identificados até o momento. Dentre as bactérias, grupo mais abundante e diversificado, destacam-se as responsáveis pela digestão de fibras Fibrobacter succinogenes, Ruminococcus albus, Prevotella ruminicola e as digestoras de amido Ruminobacter amylophilus, Succinivibrio dextrinosolvens, S. amylolytica e o grupo dos Lactobacillus spp. (Puniya, 2015). Essas bactérias possuem repertórios enzimáticos que quando combinados, agem sequencialmente na quebra do alimento ingerido, efetuando parte do processo da digestão para o animal.

Uma microbiota ruminal sadia desempenha um importante papel fisiológico como na produção de vitaminas do complexo B, ativação do sistema imunológico e principalmente em processos digestivos dos animais. A predominância do grupo dos Firmicutes em animais em lactação está correlacionada com aumento da produtividade de leite em até 30% (Pitta, 2016). O aumento dos gêneros Prevotella sp. e Lactobacillus sp. está correlacionado com aumento da ingestão de matéria seca (Derakhshani, 2017).

Desequilíbrios na microbiota ruminal, como o aumento dos gêneros Campylobacter sp. e Kingella sp., estão associadas com a acidose ruminal (Wetzels, 2016). Aumento da população dos grupos Bacteriodes e Proteobacteria provoca redução na ingestão de concentrado em animais em lactação (Dieho, 2017). Em animais com elevada produção de metano, o grupo Methanobrevibacter spp. foi duas vezes mais abundante que o esperado (Wallace, 2015).

A manipulação da microbiota é uma das mais modernas vertentes biotecnológicas da pecuária e pode trazer diversos benefícios aos animais e aos produtores rurais, caso seja realizada adequadamente. A alternativa mais viável para realizar uma manipulação satisfatória é com a utilização de probióticos específicos. Para as novas oportunidades do século XXI o produtor rural não deverá apenas abrir olhos, mas quem sabe olhar pelas lentes de um microscópio.

*Natanael é biólogo pela UECE, com mestrado e doutorado em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo. Possui experiência em microbiomas e desenvolvimento de probióticos de uso animal. Fundador da YLive biotecnologia.

Artigo acessado no site MilkPoint em 02/03/2017