16 de dezembro de 2016

Marco Antonio Spinardi Jubran

 

Visando melhorar a produção de leite, aumentar a taxa de natalidade, aumentar o peso à desmama, diminuir a idade de abate, etc., deve-se prestar mais atenção à nutrição mineral para prevenir deficiências destes elementos.

Os minerais são indispensáveis para o bom desenvolvimento das funções vitais, sendo que algumas vitaminas são armazenadas no corpo dos bovinos, principalmente no fígado, e podem ser utilizadas à medida de suas necessidades por longo período, sem que os animais apresentem sintomas de deficiências, mesmo comendo uma dieta pobre nestes nutrientes, até que suas reservas se esgotem. No entanto, muitas vitaminas não são armazenadas pelos bovinos, o que exige uma ingestão diária suficiente para não haver prejuízos que reflitam em queda de produção, desempenho reprodutivo, ou mesmo, morte.

Ao contrário de algumas vitaminas, os minerais não podem ser sintetizados de maneira nenhuma pelos animais, logo devem estar presentes na alimentação. Os bovinos sob pastagens ingerem os minerais através das plantas forrageiras, e estas absorvem os elementos do solo. Portanto, os níveis de minerais das forrageiras dependem da espécie das forragens, da concentração mineral do solo, do tipo de solo e das formas químicas com que os elementos se encontram no solo.

Assim, um mesmo tipo de pastagem apresentará diferentes níveis de minerais em diferentes regiões do país.

A utilização dos minerais pelos ruminantes é complexa. Atualmente, 15 minerais são considerados essenciais, entanto, conhece-se mais de 70 inter-relações  em que a quantidade excessiva de um elemento influencia na absorção ou utilização de outro elemento mineral.

FUNÇÕES  

Os minerais desempenham basicamente 03 (três) tipos de funções no organismo animal:

Atuam como componentes estruturais dos órgãos e tecidos corporais, tais como o Cálcio, Fósforo e Magnésio;

Atuam como componentes dos fluídos e tecidos corporais que intervêm na manutenção da pressão osmótica, do equilíbrio ácido-base, da permeabilidade da membrana e transmissão de impulsos nervosos (Sódio, Cloro, Potássio, Cálcio, Magnésio);

Atuam como catalizadores em sistemas enzimáticos e hormonais (Ferre, Cobalto, Cobre, Zinco, Selênio e Magnésio).

Conforme a quantidade necessária na dieta, os minerais são divididos em:

MACROMINERAIS = necessários em grandes quantidades. São  eles: Ca, P, Mg, Cl, S e K.

MICROMINERAIS = necessários em pequenas quantidades. São eles: Fe, Co, Zn, Mn, I, Mo, Se, N, Ni, e Cr.

MINERAIS ESSENCIAIS 

CÁLCIO E FÓSFORO – Por volta de 99% do Cálcio e 80% do Fósforo são encontrados nos ossos e dentes e podem ser mobilizados, quando necessário, para uso no metabolismo. Esses dois elementos são extremamente importantes para o desenvolvimento ósseo (feto e crescimento) e manutenção da estrutura óssea dos bovinos e bubalinos. Nas pastagens brasileiras, quase sempre o Fósforo é deficiente, sendo o teor de Cálcio ligeiramente mais elevado. As pastagens formadas com leguminosas geralmente são mais ricas em Fósforo e principalmente em Cálcio, mas dependem da disponibilidade destes minerais no solo onde são cultivadas. Assim, a carência de Fósforo é um estado predominante em bovinos que vivem a pasto. Faz-se necessária a suplementação constante desse elemento (P).

Para que ocorra uma boa utilização e absorção de Cálcio e Fósforo é preciso uma dieta com quantidades adequadas da Vitamina D3. O Cálcio desempenha importantes funções fisiológicas no animal, como transmissão de impulsos, contração e relaxamento muscular e participa da coagulação do sangue. O Fósforo exerce papel vital em diversas funções metabólicas, principalmente na utilização e transferência de energia (ATP).

DEFICIÊNCIAS DE CÁLCIO E FÓSFORO: Em bovinos, os sintomas de deficiência de Cálcio e Fósforo não são específicos de um ou de outro elemento, mas na prática pode-se compará-lo conforme o quadro abaixo:

EMBED PBrush

MAGNÉSIO – O Magnésio é amplamente distribuído entre os tecidos vegetais e animais, mas cerca de 70% de todo o Magnésio corporal localiza-se no esqueleto. A deficiência de Magnésio caracteriza-se por: atraso de crescimento, falta de apetite, incoordenações e convulsões musculares. Os bezerros que se alimentam só de leite podem apresentar deficiências nos ossos e dentes por falta desse alimento.

ENXOFRE – O Enxofre é componente de proteínas, algumas vitaminas e vários hormônios. Os microorganismos do rúmen possuem capacidade para converter o Enxofre inorgânico em compostos orgânicos sulfurosos que podem ser utilizados pelo animal. Por exemplo: o Sulfato de Sódio pode ser convertido pelas bactérias do rúmen e a Cistina e Metionina e então incorporados a proteína microbiana. Os sinais de deficiência de Enxofre em bovinos são: redução do apetite, perda de peso, fraqueza, excessiva salivação, lacrimação, tristeza e morte. Na deficiência de Enxofre, a síntese de proteína microbiana é reduzida e o animal apresenta sinais de desnutrição protéica. Alimentos ricos em proteínas são também ricos em Enxofre. A silagem de milho é normalmente pobre em Enxofre.

SÓDIO,  CLORO  E  POTÁSSIO – O Sódio e o Cloro juntos formam o Cloreto de Sódio, que é o sal comum ou sal grosso. Deficiências de Sódio e Cloro podem ocorrer devido as plantas forrageiras apresentarem normalmente baixos teores de Sódio e em virtude da perda de Sódio pelo suor, principalmente em animais mantidos em ambientes quentes ou usados para trabalho. Destes três elementos, o Sódio é o mais importante para os bovinos, uma vez que não tem se observado deficiência de Cloro e Potássio. Os bovinos tem grande avidez pelo sal comum, por isso é utilizado em todos os suplementos minerais e suas misturas, e é o que limita a ingestão voluntária da mistura mineral. O primeiro sintoma de deficiência de Sódio é a depravação do apetite, manifestada pelo hábito de consumir madeiras, terra, paredes e suor de outros animais. Outros sinais de deficiência são a diminuição do apetite, perda de peso, queda da produção de leite, acompanhada da redução do teor de gordura do leite. A maioria dos alimentos ricos em proteínas contém altos níveis de Potássio, e geralmente as pastagens possuem teores maiores que os requeridos pelos bovinos.

COBALTO – Quando existe deficiência de Cobalto, as bactérias do rúmen não conseguem sintetizar Vitamina B12 (o Cobalto é utilizado como matéria-prima da Vitamina B12). Por isso, a deficiência de Cobalto é, na verdade, deficiência de Vitamina B12. Os animais apresentam pelos arrepiados e a vassoura da cauda se desprende com facilidade, até a perda de pelos da cauda. Outros sintomas são: perda gradual de apetite, queda de peso e anemia severa. É muito comum animais sob boas pastagens apresentarem deficiência de Cobalto. Tal fato se deve as necessidades aumentadas de minerais pelo alto valor nutritivo das pastagens. Quanto melhor a alimentação, maior é a exigência de minerais para processar (digerir) tais alimentos.

FERRO E COBRE – Sinais de deficiência de Ferro são mais comuns em bezerros lactantes (o leite é pobre em Ferro) e em animais com excessiva perda de sangue. Vermes e carrapatos causam grande perda de sangue. Deficiência de Cobre e Ferro causam anemia e perda de apetite. A adição de Ferro na dieta de bezerros lactantes melhora consideravelmente o desenvolvimento. A deficiência de Cobre poderá causar ainda deformações ósseas, despigmentação, lesões no coração com morte súbita e diarréia persistente.

IODO – O Iodo é requerido para a síntese dos hormônios produzidos pela tiróide (tiroxina e

triodotiroxina), que regulam a taxa metabólica do animal. Cerca de 70-80% do total de Iodo no organismo se encontra na glândula tireóide. A deficiência de Iodo se caracteriza pelo aumento da tireóide (bócio, papo e papeira), nascimento de bezerros sem pelos e com alta mortalidade, crescimento e maturidade retardados, alteração na reprodução como infertilidade e esterilidade, cios irregulares ou ausência de cio.

MANGANÊS E ZINCO – O Manganês e o Zinco atuam como ativadores de enzimas no organismo do animal. Deficiência de Manganês em bovinos provocam falhas reprodutivas em fêmeas e machos, má formação óssea, paralisia e deterioração do sistema nervoso central. A deficiência de Zinco é caracterizada por diminuição do desenvolvimento, apatia, dermatite (inflamação da pele), que é mais severa no pescoço, cabeça e membros, além de coceiras (prurido). O Zinco é fundamental para se ruma pelagem lisa.

SELÊNIO – Embora longamente reconhecido como um elemento tóxico para bovinos, atualmente o Selênio é comprovadamente um elemento essencial. Os bovinos alimentados com pastagens desenvolvidas em solos ácidos estão mais sujeitos a essa deficiência. Em bezerros, a falta de Selênio causa doença do músculo branco e em adultos, prejudica o desempenho reprodutivo. Existe uma inter-relação entre Selênio, retenção de placenta e Vitamina E.

CROMO – Está relacionado com a insulina, é fator de tolerância da glicose e regulador do nível de colesterol.

SUPLEMENTAÇÃO MINERAL 

A suplementação mineral deve ser feita normalmente pela adição de misturas minerais preparadas e colocadas em cochos de ração ou próprios para mineralização, uma vez que a alimentação diária dos bovinos e bubalinos não atende os requerimentos diários desses animais.

Os bovinos não apresentam um consumo especial pela maioria dos minerais, exceto para o sal comum. Devido a sua aceitabilidade, o sal é veículo dos outros minerais e o limitador do consumo da mistura mineral.

A mistura mineral  pode ser incorporada nas rações concentradas de bovinos de leite ou animais confinados. Para o gado em regime de pastagem, que não recebe concentrado, é preciso confiar na ingestão voluntária da mistura, por isso, ela deve ser bastante palatável.

Vários fatores influenciam o consumo voluntário da mistura mineral, entre eles: fertilidade do solo e tipo de forragem, disponibilidade de nutrientes energéticos e protéicos, necessidades individuais, conteúdo mineral na água de bebida, palatabilidade da mistura, administração recente de boa mistura mineral e forma física do produto (blocos, pó, etc.).

O consumo médio de mistura mineral é de 60g por cabeça/dia, ou, 1,95kg/mês, ou ainda aproximadamente 25kg/ano. Ressaltamos que não atingiremos um nível aceitável de produtividade para o rebanho nacional sem o uso diário de uma mistura mineral séria. Não é admissível que o Brasil tenha um dos maiores rebanhos do mundo em número de animais, espaço e condições favoráveis para o desempenho da pecuária e tão baixos índices zootécnicos. É preciso um esforço entre vendedores e técnicos a fim de melhorar essa situação e eliminar a carência nutricional da grande maioria da população.

Cabe aos técnicos e industriais desenvolver produtos sérios e aos vendedores levar essa tecnologia ao campo.